Viena Áustria
O clichê é quase tão velho quanto o local, mas não
deixa de ser verdadeiro: Viena é, de fato, a capital da música. Afinal
em que outro lugar do mundo as composições de Mozart, Beethoven e Haydn
podem ser apreciadas tanto nos suntuosos salões imperiais quanto, quem
diria, num banheiro público?
A capital austríaca exala música, que quase sempre é
combinada com palácios como o de Schoenbrunn, lar de verão dos
Habsburgos e da imperatriz Sissi, ou construções luxuosas, como a Ópera
de Viena, que, além das apresentações concorridas, também abriga, em
fevereiro, um baile que transforma o palco em pista de dança.
Mas até mesmo nos locais em que reina o silêncio,
como nos corredores de museus, no Parque da Cidade - com suas estátuas
dos grandes compositores -, e na bastante visitada roda-gigante, a algumas
dezenas de metros do chão, há um convite implícito à trilha sonora
providencial fornecida por um walkman ou CD player. Resta escolher qual
sinfonia vai melhor com cada atração.
A música na capital austríaca, porém, já não se
resume às obras dos grandes compositores. Na Casa da Música, ritmo e
tecnologia se unem em combinações às vezes estranhas, como a Ópera
Cerebral, em que diferentes botões são usados para produzir sons.
Viena, porém, não promete agradar apenas aos ouvidos
dos turistas. Cativa os olhos - e o coração - com atrações como a
pintura "O Beijo", de Gustav Klimt, na galeria do Palácio
Belvedere. Ou, para os mais bem-humorados, pinturas curiosas como os
retratos do italiano Giuseppe Arcimboldo expostas no Museu de História
das Artes, em que as pessoas são "construídas" com frutas e
outros objetos.
Há, ainda, jóias e tesouros seculares, como os que
estão protegidos dentro do Palácio Hofburg, outrora sede do poder do
império austríaco. Mas alguns anos atrás as construções clássicas
também foram temperadas com o estilo moderninho e colorido de artistas
como Friedrich Hundertwasser.
Para paladares mais ávidos, existem pratos típicos
como as famosas salsichas vienenses e doces como a sachertorte, uma torta
de chocolate coberta com geléia de damasco.
Oportunidades para apreciar música clássica em Viena
não faltam. A Ópera de Viena (Staatsoper) - inaugurada em 1869,
destruída na Segunda Guerra e reaberta em 1955 - é, de longe, a
principal atração musical da cidade. E também uma das mais concorridas.
Os ingressos devem ser comprados com boa antecedência.
Quem não quiser pagar até 180 euros por um assento
pode tentar um ingresso para lugares em pé, bem mais baratos, cerca de 5
euros. Vendidos horas antes da ópera, são muito concorridos; isso pode
tornar o passeio cansativo.
Com preços mais módicos - os assentos mais caros
giram em torno de 65 euros -, a Volksoper (ou Ópera do Povo) apresenta
igualmente óperas e operetas, às vezes com os mesmos intérpretes da
Ópera de Viena. Para dezembro estão programadas "Carmen", de
Georges Bizet, e "Don Giovanni", de Mozart. A terceira ópera de
Viena, a Wiener Kammeroper, tem um repertório mais diversificado com
óperas e operetas menos conhecidas e versões modernas de composições
clássicas e até paródias.
A Sociedade dos Amigos da Música (Musikverein), que
abriga a Orquestra Filarmônica de Viena, também abre as portas para
concertos. Lá, outra atração é a arquitetura do local, com influência
grega. A Konzerthaus, aberta em 1913, também apresenta espetáculos
musicais.
Uma das opções mais turísticas são os concertos de
duas horas na Orangerie (imenso salão nos territórios do Palácio de
Schoenbrunn, que era usado como jardim de inverno e para encontros da
sociedade). O local não exige vestuário tão formal quanto um terno e
gravata, mas não vá cometer a gafe de vestir agasalho de time de
futebol.
Na apresentação da Orangerie, músicas como "As
Núpcias de Figaro", de Wolfgang Amadeus Mozart, são bem entremeadas
por expressões e trejeitos cômicos de seus intérpretes. Entre um
número e outro, há espaço para espetáculos de dança, sem esquecer da
tradicional valsa "Danúbio Azul", de Johan Strauss.
Os ingressos para essas apresentações podem ser
comprados nos pontos turísticos da cidade - a porta da ópera é um deles
-, com vendedores facilmente reconhecidos por seus trajes de mosqueteiro.
Muitos são estudantes de arte e, além do alemão, dominam o inglês e
outras línguas, o que facilita o contato.
Também estão em cartaz musicais como "Wake Up"
e "Jekyll&Hyde", no Raimund Theater e no An der Wien Theater,
respectivamente.
Um prato cheio para passeios, namoricos e piqueniques
com belas paisagens. O Palácio de Schoenbrunn por si só é uma atração
de Viena que merece pelo menos uma manhã ou uma tarde - caso você
pretenda aguardar uma das apresentações musicais que ocorre por lá.
Para quem vai sozinho, há muito a ser visto nos
salões e jardins que remetem ao tempo dos Habsburgos (dinastia que
comandou a Áustria por cerca de seis séculos). Mas são os casais que
terão pela frente o cenário adequado, ainda mais se tiverem lido ou
assistido às histórias da imperatriz Sissi (no cinema, interpretada pela
atriz austríaca Romy Schneider).
Sissi era o apelido da imperatriz Elisabeth, esposa do
imperador Francisco José, que governou o império entre o final do
século 19 e início do 20. Apesar de o casal ser lembrado como o
principal ocupante do palácio de verão, a história de Schoenbrunn é
mais antiga. As primeiras construções no local datam do século 14. O
projeto inicial foi feito em 1688.
Entretanto, foi entre 1740 e 1780, com a imperatriz
Maria Teresa que o palácio começou a ganhar sua forma original, seus
jardins e o zoológico. Todo o conjunto de Schoenbrunn foi considerado
Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1996.
Dentro do palácio, é possível visitar 36 aposentos.
Em alguns, é possível rever um pouco da história de Sissi e Francisco
José. No escritório do imperador, há um quadro do casal. Mais adiante,
o cômodo em que Sissi escrevia poemas e diários.
Os aposentos mais suntuosos são o Quarto dos Espelhos
e o Quarto Rosa - salas interligadas onde o músico Wolfgang Amadeus
Mozart teria apresentado sua primeira composição, aos 6 anos de idade -
e a Grande Galeria, que em 1961 teria servido de palco para o encontro
entre os presidentes dos Estados Unidos, John Kennedy, e da União
Soviética, Nikita Khruschev, durante o período da Guerra Fria.
Além dos imperadores austríacos, Schoenbrunn também
serviu como residência e quartel-general de Napoleão Bonaparte quando
ele ocupou Viena, entre 1805 e 1809. Foi na Áustria que o imperador se
casou e teve o único filho legítimo, o duque de Reichstadt, que morreu
em Schoenbrunn, aos 22 anos.
Sissi e Francisco José, imperadores que tornaram
célebre o palácio, também não tiveram um final feliz. Comenta-se que,
depois de anos de casamento, o gênio da imperatriz fez com que ela se
afastasse cada vez mais do marido. A situação piorou quando o único
filho homem do casal, Rodolfo, se suicidou em uma cabana de caça em
Mayerling, junto com a amante.
Em 1898, aos 60 anos, Sissi foi assassinada por um
anarquista italiano. Francisco José morreu em Schoenbrunn, deitado em sua
cama, em 1916, aos 86 anos. Em novembro de 1918, a construção deixou de
ser residência imperial, com a criação da República da Áustria.
Apesar do luxo dos apartamentos imperiais, os locais
mais interessantes de Schoenbrunn estão do lado de fora das paredes do
palácio. Os jardins são o ponto alto, ideal para caminhadas a dois. As
opções são muitas. Em frente, chega-se à Fonte de Netuno, inaugurada
em 1780, em que o deus do mar aparece cercado de figuras mitológicas e
animais marinhos.
À direita do palácio, está o Zoológico de
Schoenbrunn, aberto em 1752 e com dependências de estilo barroco. Em
1828, o local recebeu a primeira girafa a ser levada a Viena. O nome do
animal acabou sendo usado para adjetivar jóias, roupas e músicas na
época. Perto dali, há um labirinto feito com cercas vivas em 1740 e
restaurado em 1998. Vale a pena se perder nele.
À esquerda de quem entra no palácio, há uma
"ruína" romana, construída em 1778, e o local que dá nome a
Schoenbrunn, que significa "fonte clara". Trata-se do local que
teria sido descoberto em 1619 pelo imperador Mathias, durante uma caçada.
Relatos antigos dão conta de que, ali, haveria a
estátua de mármore de uma mulher, que jorraria água pelos seios. A obra
teria sido destruída na invasão turca, em 1683. Hoje, há uma estátua
da ninfa Egeria, de 1780, que jorra água por um vaso.
À frente, mais ao alto, um dos pontos mais bonitos de
Schoenbrunn. Em torno de um lago artificial, banquinhos com vista para o
palácio e, ao fundo, para Viena. Os bancos são bastante disputados. Mas,
depois do esforço da subida, vale a pena se espreguiçar, deitar a
cabeça no ombro do parceiro e esquecer da vida, aproveitando a paisagem.
Um pouco mais adiante, está a Gloriette, salão que
era usado para festas e jantares dos imperadores, construído em 1775. Em
sua estrutura, há estátuas de cavaleiros. Dentro, há hoje um café e um
mirante.
No início da tarde, se o dia estiver ensolarado, um
conselho: não deixe de brincar com as próprias sombras - que ganham
formas gigantescas - quando estiver descendo da Gloriette de volta aos
aposentos imperiais. Pode parecer constrangedor, mas se você olhar em
volta, verá que muita gente tem a mesma idéia.
Por fim, uma dica: leve um lenço ou pedaço de flanela
para limpar os sapatos e a barra da calça, que ficam cobertos por uma
fina poeira branca após alguns minutos de caminhada.